Começa, neste texto, uma série de artigos sobre doutrinas especiais para os
cristãos. Este autor gosta – e muito – de explicar termos. O dicionário Houaiss
traz algumas definições. Por exemplo: “soberania é a qualidade ou condição de
soberano; superioridade derivada de autoridade, domínio, poder; autoridade
moral, tida como suprema”. BOYER, Orlando em sua Pequena Enciclopédia Bíblica
traz: “Autoridade Suprema”. Biblicamente, Deus (JAVÉ) é o SOBERANO ABSOLUTO; pois,
foi Ele que a tudo criou (Salmo 24). Um dos textos mais profundos sobre a soberania
de Deus é o de Jeremias 10:10-16. Os versos 10-13 afirmam: Mas o Senhor é o Deus verdadeiro; ele é o Deus vivo; o rei eterno.
Quando ele se ira, a terra treme; as nações não podem suportar o seu furor.
"Digam-lhes isto: ‘Esses deuses, que não fizeram nem os céus nem a terra,
desaparecerão da terra e de debaixo dos céus’.” Mas foi Deus quem fez a terra
com o seu poder, firmou o mundo com a sua sabedoria e estendeu os céus com o
seu entendimento. Ao som do seu trovão, as águas no céu rugem, e formam-se
nuvens desde os confins da terra. Ele faz os relâmpagos para a chuva e dos seus
depósitos faz sair o vento”.
Para melhor entendimento humano, a Bíblia usa
bastante a linguagem antropomórfica (atribuição de características humanas como
membros do corpo e atividades físicas a Deus). Não poucas vezes o
antropomorfismo é acompanhado de antropopatismo (atribuição de emoções humanas,
paixões e desejos humanos a Deus). Assim, ambas as palavras são usadas
teologicamente para enfatizar Deus se expressando em forma e sentimentos
humanos, para que este pudesse entender.
Portanto, ao pensar sobre a soberania de Deus,
pode-se afirmar que é o Seu poder e domínio sobre toda a criação, pois, tudo
que existe está sob o seu domínio e poder. Absolutamente nada acontece sem a
expressa permissão de Deus e nada pode impedir que Ele cumpra suas promessas e
planos eternos. O salmista assim se
expressa sobre isso: “O Senhor desfaz os planos das nações e frustra os
propósitos dos povos. Mas os planos do Senhor permanecem para sempre, os
propósitos do seu coração, por todas as gerações”. (Salmo 33:10-11 NVI). Ele é,
pois, o Soberano, o Rei Eterno, Autoridade Suprema sobre tudo e todos no
universo. É Ele que estabeleceu todas as leis da natureza e elas são imutáveis.
É ele que garante a aplicação das leis e da justiça. Portanto, Ele é aquele
que, se quiser, interfere em tudo quando melhor lhe aprouver. Por isso, cabe ao
ser humano ser e estar submisso a Ele, o soberano.
Estes alfarrábios pretendem ser práticos. Um texto
para ser analisado e aplicado de forma prática no relacionamento do Soberano
Deus com os homens mortais, é o de Tiago 4. No verso 6 lê-se: Mas Ele nos
concede graça maior. Por isso diz a Escritura: "Deus se opõe aos
orgulhosos, mas concede graça aos humildes". O orgulho tem a ver com
egoísmo, com dar valor que não se tem... a si próprio. O soberano Deus,
portanto, se opõe aos orgulhosos, àqueles que se valorizam e não reconhecem a
soberania de Deus.
Tiago (irmão de Jesus) vai ser prático no confronto
da soberania de Deus com o orgulho humano. O Apóstolo diz: Ouçam agora, vocês
que dizem: "Hoje ou amanhã iremos para esta ou aquela cidade, passaremos
um ano ali, faremos negócios e ganharemos dinheiro". Vocês nem sabem o que
lhes acontecerá amanhã! Que é a sua vida? Vocês são como a neblina que aparece
por um pouco de tempo e depois se dissipa. Ao invés disso, deveriam dizer:
"Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo". Agora,
porém, vocês se vangloriam das suas pretensões. Toda vanglória como essa é
maligna. Pensem nisto, pois: Quem sabe que deve fazer o bem e não o faz, comete
pecado (Tiago 4: 13-17 NVI). Tiago vai mostrar como deve ser encarada a
absoluta soberania de Deus e isso fará absoluta diferença prática na vida
cristã.
No verso 4, Tiago chama esses cristãos orgulhosos
de “adúlteros espirituais”. E aperta o acelerador ao enfatizar que esses
cristãos jactavam-se de amar a Deus acima de todas as coisas; mas, na prática,
amavam este mundo e seus prazeres e, por isso, suas orações não eram
respondidas. No verso 6 enfatiza o orgulho e a soberba e que Deus, o soberano,
a estes resiste... mas, favorece aos humildes. Por isso, no verso 10 ele faz o
apelo para que seus leitores se humilhassem na presença do Senhor, para que
pudessem ser exaltados.
Ele passa, então, a tratar essa soberba ou orgulho
sob ótica bem prática. Um dos temas centrais da carta de Tiago é o mau uso da
língua (fofocas, maledicências, etc.). Ele é direto e objetivo: “não falem mal
uns dos outros”, pois isso é um tipo de julgamento (soberba, orgulho). Afinal,
o único juiz espiritual é Deus, o soberano... que pode “salvar e destruir”. E
pergunta com desdém: “... quem é você para julgar o seu próximo”?
Na mesma linha de raciocínio sobre Deus e a
nulidade humana Tiago faz algumas observações profundas no verso 13, sobre essa
arrogância em claro contraste com a soberania de Deus: “hoje ou amanhã...
iremos, passaremos, faremos”. E onde fica a soberania de Deus? Em outras palavras “eu vou, eu passarei, eu
farei” ou “nós iremos, nós passaremos, nós falaremos”. Isso é antropocentrismo
(homem no centro das coisas). E a soberania de Deus? Que autoridade tem o ser
humano, cristão ou não, para tomar decisões de para onde vai? O que vai
escolher? Onde se hospedará? Quanto tempo ficará fora? Que tipo de negócios
fará? Quanto lucrará? Quem é o ser humano para tomar essas decisões? E onde
fica Deus, o soberano?
Afinal, “Vocês nem sabem o que lhes acontecerá amanhã! Que é a sua vida? Vocês são como a neblina que aparece por um pouco de tempo e depois se dissipa” (vs. 14). Ele está afirmando duas verdades: 1. A brevidade da vida; 2. A ignorância, a estultícia daquilo que estão dizendo. Ninguém sabe o que virá amanhã, nem se alguém estará vivo. Ninguém sabe se terá vitórias e ou lucros em suas empreitadas. Só o Deus soberano tem o controle de tudo. O amanhã é um senhor desconhecido para todas as pessoas... menos para o soberano Deus, criador, mantenedor e sustentador de todas as coisas. Só Deus e seu kairós (tempo de Deus), tem o controle de tudo.
Depois de puxar a orelha de seus leitores, Tiago vai ensinar a maneira correta do cristão temente a Deus pensar e agir. No verso 15 ele diz: Ao invés disso, deveriam dizer: "Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo". Ao invés de antropocentrismo... teocentrismo. Deus é o centro e o soberano. Nunca, jamais... o homem. “Se o Senhor quiser, eu farei”; “se o Senhor quiser, viverei” e assim por diante. Tudo depende de Deus. É um estado permanente de reconhecimento da soberania de Deus. O Salmo 139 declara que Deus conhece o ser humano desde o ventre da sua mãe e estabeleceu todos os seus limites... porque Ele é soberano. Jamais o pensamento do cristão deve ser: “eu faço, eu penso, eu vou, eu lucro, eu...”. “SE DEUS QUISER... eu faço, eu penso, eu vou, eu lucro...”. Nada mais... Ele é soberano!
O fato do cristão não viver focado na soberania de Deus e, em consequência, não viver uma vida na dependência dEle e sob a orientação dEle, torna os atos e pensamentos do ser humano pecador, algo que Tiago chama de vanglória; portanto, maligno: Agora, porém, vocês se vangloriam das suas pretensões. Toda vanglória como essa é maligna (4:16 NVI). Assim, tudo que o cristão pensar ou fizer deve ser sob a ótica da soberania de Deus, ou seja, “SE O SENHOR QUISER...”
Para encerrar, pense seriamente nisso: tudo, inclusive a morte de Cristo foi planejado por Deus na sua soberania. Assim, como servos dEle, compete ao cristão se submeter à Sua Soberana Vontade. Veja o que escreveu Lucas (Atos 4:27-29) quando da ousadia de Pedro e João diante do Sinédrio e a consequente reação da igreja: “De fato, Herodes e Pôncio Pilatos reuniram-se com os gentios e com os povos de Israel nesta cidade, para conspirar contra o teu santo servo Jesus, a quem ungiste. Fizeram o que o teu poder e a tua vontade haviam decidido de antemão que acontecesse. Agora, Senhor, considera as ameaças deles e capacita os teus servos para anunciarem a tua palavra corajosamente”. “... de antemão”, ou seja, tudo estava nos planos soberanos de Deus.
Diante da soberania de Deus, pediram apenas uma coisa: “capacita os teus servos para anunciarem a tua palavra corajosamente”. Qual a consequência? O que aconteceu? “Estende a tua mão para curar e realizar sinais e maravilhas por meio do nome do teu santo servo Jesus. Depois de orarem, tremeu o lugar em que estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo e anunciavam corajosamente a palavra de Deus. Da multidão dos que creram, uma era a mente e um o coração. Ninguém considerava unicamente sua coisa alguma que possuísse, mas compartilhavam tudo o que tinham. Com grande poder os apóstolos continuavam a testemunhar da ressurreição do Senhor Jesus, e grandiosa graça estava sobre todos eles” (Atos 4:30-33 NVI).
Observe as consequências de se entender e praticar a Soberania de Deus na vida. Veja os destaques no texto de Atos 4:30-33: Curar, sinais e maravilhas, tremer o lugar pela presença marcante do Espírito Santo de Deus, ter tudo que tinham em comum e o anúncio corajoso da palavra de Deus.
Porventura, não está faltando hoje em nossas igrejas o reconhecimento da SOBERANIA DE DEUS e a consequente submissão de cada pessoa à VONTADE SOBERANA DELE? Amém.
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