Vejo um evangelho ao mesmo tempo anacrônico e esdrúxulo. Um
evangelho que não é aquele ensinado por Jesus e seus discípulos. Não é o
evangelho da vida cristã autêntica. Não é o evangelho dos heróis da fé.
Não é o evangelho cujo centro é o Senhor Jesus. Estou conhecendo um evangelho
que a Bíblia, verdadeiramente desconhece. Vou nomear algumas esquisitices que
percebo hoje em nome do evangelho, da Bíblia, de Deus. Vou, simplesmente,
definir algumas coisas que tenho visto em algumas igrejas. Esquisitices
evangélicas.
Pastores há que saem de seminários e faculdades teológicas
sem conhecerem a Bíblia; ou não se importam com ela. São picados pela mosca
“hollywoodiana”. Preferem viver o “glamour” dos focos luminosos do mundo, do
que a humildade de Jesus que, mesmo sendo Deus, esvaziou-se de si mesmo
(Filipenses 2). A Bíblia é algo meramente secundário em suas vidas. Um livro de
estante. Por isso, o culto que praticam é aquele onde a palavra pregada é vazia
e estéril. Quase sempre um amontoado de filosofias e psicologias alheias à
Bíblia; relegada a alguns minutos corridos na parte final do culto. Fui
convidado a pregar numa igreja, num culto jovem (sic). Fui avisado que o culto
terminaria as 21:00 horas. Depois de uma hora e quinze minutos de “louvor e
adoração gospel”, e mais alguns de avisos, passaram-me a palavra para a
mensagem. Não tive dúvidas: li o texto e avisei que o tempo tinha acabado. Fui
embora. Afinal, para esse tipo de “platéia” (e não servos de Cristo), uma
mensagem bíblica seria pedante e anacrônica. Certamente iriam me deixar
sozinho!
Esse tipo de pastor “hollywodiano” quer toda atenção para si.
Os cultos são pândegos. O púlpito vira palco e picadeiro. A membresia de servos
não existe... apenas platéia. O negócio é cantar, dançar, gritar e, pasmem,
profetizar o que nunca ouviram. Num desses cultos, faz alguns anos, na cidade
de Diadema (SP), uma “pastora”, com a maior cara de pau “profetizou” que ouvira
de Deus que uma determinada irmã, solteirona, da “platéia” iria se casar com um
homem que, também, estava na “platéia”. Poucos meses depois os dois
estavam casados... afinal, fora revelação profética. Nem é preciso dizer que o
casamento não durou seis meses.
A pastorlatria, e ou, autolatria, chega ao cúmulo quando não
mais se ouve falar de “igreja tal (batista, metodista, presbiteriana,
assembléia, etc.). O que mais se ouve é “a igreja do apóstolo tal, do bispo
tal, do pastor tal). Menos ainda se ouve dizer: - A igreja de Jesus
Cristo a qual sirvo! Fora isso há as toalhas abençoadas com o suor do dito
cujo, os vidrinhos com água do rio Jordão, o óleo ungido e outras tantas
esquisitices de um “evangelho” (sic) que não é o da Bíblia.
Os cultos nesses arraiais só são bons se houver um estado de
catarse profundo. As pessoas devem sair dos “cultos” suados de tanto
glorificar. Assisti (o que é diferente de participar) a um culto na
cidade de Jundiaí (SP), onde o preclaro pastor – já falecido - levava a igreja
inteira a gritar e pular bem alto para que, ao bater o pé no chão, esmagasse a
cabeça de satanás. Só rindo! Até parece que Cristo já não fez isso. Aquilo mais
parecia uma academia onde as pessoas praticavam aeróbica.
Igrejas há onde a mensagem sobre inferno, salvação, perdão,
reconhecimento de pecado, vida cristã, senhorio de Cristo inexiste faz muito
tempo. O negócio é deixar a “platéia” feliz e garantir a prosperidade. Isso é
hedonismo, não cristianismo. Não compromisso sério com Jesus Cristo. As pessoas
não mais se preocupam em parecer com Cristo, mas em parecer com o mundo e seus
atrativos. Não existe um chamamento ao compromisso e a fidelidade a Jesus
Cristo.
Pertencer a Cristo é outra coisa. Pertencer a Cristo é ser
servo dEle! É submeter-se à Sua soberana vontade. Quem, de verdade, pertence a
Cristo é feliz, apesar das vicissitudes da vida. A pessoa que pertence a Cristo
é feliz porque luta diariamente pela sua santificação; reconhecendo que é
miserável pecador e totalmente dependente da graça de Jesus Cristo.
Parece que nessas igrejas não se conhece a galeria dos heróis
da fé de Hebreus 11. Não se conhece a história de Policarpo, de C. S. Lewis, de
Richard Wurmbrand, Dietrich Bonhoeffer, do apóstolo Paulo, do pastor Youcef e
tantos outros que morreram, ou quase, pela fé em Cristo. Nessas igrejas não se
tem conhecimento de textos como o de Marcos 13:9-13. A teologia da prosperidade
- e similares - só sabe usar “posso tudo naquele que me fortalece”, totalmente
fora do contexto (assim vira pretexto), pois não conhece o que é hermenêutica.
Os fins são escusos. Foi Jesus quem disse: “Busquem, pois, em primeiro lugar o
Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas.
Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã trará as suas próprias
preocupações. Basta a cada dia o seu próprio mal” (Mt. 6:33-34 NVI).
“Duas filhas tem a sanguessuga. Dê! Dê!, gritam elas”
(Provérbios 30:15). Creio que este é texto básico dessas teologias, sem
verificação do contexto. O que se vê é uma ridícula criação de novas teologias
sem quaisquer ligações sérias com a Bíblia Sagrada. A mim me parece que cada
“inventor de uma nova teologia” a patenteia como sua e nem quer saber se Jesus
Cristo a aprova. Afinal, o “santo homem de Deus” é intocável e sua palavra está
acima da Palavra de Deus... e ainda criticam o catolicismo pelas bulas e
encíclicas papais. Que evangelho diabólico é esse!
O que sabem dizer é “Dê! Dê!”, como abutres e sanguessugas
modernos estribados em qualquer coisa, menos na Palavra de Deus, embora a usem
amiúde e inescrupulosamente. Interessante que após sugar até a última gota...
largam suas presas ao relento, aos seus problemas e dificuldades. Afinal, já
serviram aos seus instintos carnais. Que o digam os milhares de “desigrejeiros”
(esse termo eu li em um artigo do saudoso Pastor Isaltino Gomes Coelho Filho).
Falando em pastor Isaltino Gomes, recomendo aos meus leitores
a leitura de um artigo dele intitulado “Religião ou Magia”. Lá, ele trabalha a
questão de que os “cristãos” confundem religião com magia e o fazem em cima de
três fatores: a) A Bíblia vista como livro de receitas mágicas; b) o pastor que
é visto como pajé; c) e o culto entendido como manipulação de forças
espirituais. Vale a pena ler o artigo. Ele é um em quem cabe com justiça Hebreus
11:4c “Embora esteja morto, por meio da fé ainda fala”.
“De fato, todos os que desejam viver piedosamente em Cristo
Jesus serão perseguidos” (II Timóteo 3:12 NVI). “... pois a vocês foi dado o
privilégio de não apenas crer em Cristo, mas também de sofrer por ele...”
(Filipenses 1:29 NVI). Por que quase ninguém ensina mais esses textos? Dietrich
Bonhoeffer foi enforcado no campo de concentração de Flossenburg, na Alemanha,
em 09 de abril de 1945, por causa de sua fé. Ele deixou escrito que o
sofrimento é o sinal do verdadeiro cristão.
O cristianismo precisa voltar às suas origens bíblicas.
Precisa deixar de ser egocêntrico e ser o que sempre deveria ser:
CRISTOCÊNTRICO. Ah, se a igreja e os líderes se espelhassem no apóstolo Paulo
que teve a ousadia de dizer duas coisas que me estremecem. A primeira está em
Gálatas 6:17: “Sem mais, que ninguém me perturbe, pois trago comigo as marcas
de Jesus” (NVI). A segunda está em I Coríntios 11:1: ‘Tornem-se meus
imitadores, como eu sou de Cristo” (NVI).
No campo que trabalho, no meio batista, com tristeza vejo a
mesma coisa: evangelho anacrônico, superficial, pueril, antropocêntrico... e
muita falta de amor de “uns para com os outros”.
Quais as minhas marcas espirituais que me identificam como
seguidor de Jesus Cristo? Quais as marcas espirituais que deixam essas igrejas
e líderes que os marcam como servos de Jesus Cristo? Pobres igrejas e
miseráveis líderes. Deus vai pedir contas. Definitivamente... esse evangelho
não é o verdadeiro evangelho deixado por Cristo e seus discípulos: o evangelho
da Bíblia. Amém
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