Nenhum cristão sério duvida de que a vida é
sagrada. É dom dado por Deus e, portanto, pertence a Ele (Sl.139:13-16, dentre
tantos). Infelizmente, no meio evangélico o tema ainda não é tratado com o
devido respeito e profundidade. A transparência é necessária e inegociável. Sem transparência, não há prevenção. A raiz
não é apenas espiritual, é social e psicológica também e muito mais profunda do
que se pretende transparecer. É preciso desnudar a máscara da religiosidade,
dos transtornos, das crises e dificuldades pelas quais passa o meio cristão e,
essencialmente, os pastores, pastoras e liderança espiritual (genericamente
falando). Não há porque se esconder a realidade nua e crua do meio religioso.
Há dezenas de pastores se suicidando... e ponto final.
Fiz um rápido levantamento nas redes sociais
(portanto, não é científico) e descobri que nos últimos três anos mais de vinte
(20) pastores, pastoras, missionários, evangelistas e congêneres se suicidaram
mundo afora. No Brasil o suicídio está grassando cada vez mais. A realidade do
fato tem que deixar de ser tabu e o enfrentamento real, transparente,
verdadeiro, sem religiosidade hipócrita precisa ser enfrentado. E mais, esse
não é apenas um problema da igreja cristã, é, também, um problema social grave
que as forças governamentais têm que enfrentar.
O fato é antigo, apenas grassou nos últimos
tempos. Biblicamente falando há alguns casos mostrados pela Palavra de Deus. Independe
se a pessoa se matou ou pediu para que a sua vida fosse tirada, tendo
consciência de que morreria de qualquer forma. É só conferir: Abimeleque (Jz.
9:54); Saul (I Sm. 31:4); o escudeiro do rei Saul (I Sm. 31:4-6); Aitofel (II
Sm. 17:23); Zinri (I Rs. 16:18); Judas (Mt. 27:5). Há, também, Sansão que pediu
pra morrer, juntamente com os inimigos filisteus (Jz. 16:29-30). O carcereiro
de Filipos, só não se suicidou, por intervenção do apóstolo Paulo (At.
16:26-28). Aqui não se discutirá, dos textos acima, o que é tido como suicídio
ou não, se é eutanásia ou suicídio assistido. Apenas a constatação de que a
Bíblia mostra alguns casos de suicídio.
Fora isso, há alguns casos de “homens de Deus”
que, diante de crises homéricas para eles, pediram a morte, num deplorável
estado de depressão ou distúrbios emocionais e ou espirituais. Outros que
honestamente choraram suas crises em desespero de morte. Ei-los: Davi, ao ser repreendido por Natã e
saber da morte de seu filho... entrou em desespero (II Sm.12:13-18). Muitos
salmos refletem seu estado de angústia e dor (Sl. 38:4-6; 42:5;11 e outros). Elias, o vitorioso profeta foi ameaçado
por Jezabel e fugiu. Longe, no deserto, desgastado, derrotado, afastado de tudo
e de todos, sentou-se e pediu a morte (I Rs. 19:4). Jonas, vocacionado por Deus aos ninivitas... fugiu. Foi resgatado e
pregou uma mensagem simples, objetiva a ponto de salvar toda uma cidade. Porém,
ao invés de alegria, ficou triste e bravo ao mesmo tempo, a ponto de pedir a
morte (Jn. 4:3, 8-9). Jó sofreu
tanto que, diversas vezes, entrou em crise profunda (Jó 3:11, 26; 10:1). Moisés também passou por crises profundas
diante da incredulidade do povo de Deus. Foram momentos de ira, desespero,
decepção diante da missão (Ex. 32:19-20, 32). Jeremias, o profeta chorão, sempre teve sua mensagem rejeitada,
além de ter sido proibido de se casar e ter filhos. Pobre, solitário,
perseguido e rejeitado, constantemente chorava e teve momentos de profunda
depressão (Jr. 8:18-9:1; 20:14, 18). O
próprio Jesus, o Filho de Deus
humanizado (sua natureza teantrópica), mostrou, como exemplo, que todos
passariam por crises (Mc. 14:34-36; Lc. 22:44).
Alguns afirmam que o suicida tem distúrbios mentais.
Bem isso é verdade, mas, não toda a verdade. Não existe causa única. Existem
duas escolas clássicas que pensam de formas diferentes. Uma é a sociológica e a
outra a psiquiátrica. A primeira entende que o distúrbio nem sempre é mental. A
segunda acha que sim. Há outras escolas, claro. Não há como ter unilateralidade
em tal assunto. O leque precisa ser maior e aberto. Pessoas que demonstram
plena saúde mental, não poucas vezes, por determinadas circunstâncias surtam.
Há momentos na vida que pessoas absolutamente normais sofram pressões terríveis
tais como: doenças graves, morte de pessoa amada, profundo sentimento de sofrer
injustiça, desmonte familiar... e tantos outros. Além disso, pode surgir a
depressão, o isolamento indesejado, a bipolaridade, a violência doméstica, as drogas,
questões morais e éticas, além de profundos questionamentos religiosos tão
comuns no meio cristão, independente de denominação.
Se as linhas “sociológica e psiquiátrica” não
se entendem, a cristã também não. Há extremos que precisam ser combatidos. Há
aqueles que entendem que a depressão suicida é causada por “demônios” e há
aqueles que entendem que é causada por pecados cometidos. Ambas as correntes
entendem que a depressão que leva ao suicídio não é doença. E isso é um erro
crasso. Mas, sobre isso, especificamente, será tratado em um próximo artigo.
Fique atento!
Apenas para instigar sua leitura dos próximos
textos, quero fazer uma afirmação que é peremptória para este autor: Ninguém
pode julgar que alguém não morreu salvo, pelo fato de ter cometido suicídio. “Cada
caso é cada caso”, como diria minha avó. Vou entrar mais profundamente nisso
oportunamente. Não tenho medo de afirmar que um cristão pode sofrer um
distúrbio mental, uma depressão violenta ou outro tipo de crise que julgue “sem
saída” e atentar contra a própria vida. É normal? Não. É certo? Não. É a
vontade de Deus? Também não. Por isso, há uma infinidade de tensões a serem
discutidas. Toda essa discussão é embasada primariamente em princípios bíblicos
que amo e estudo profundamente. Secundariamente, em outros estudos que precisam
ser sopesados entre si e confrontados com a inerrância da Palavra de Deus.
Existem saídas e recursos divinos sadios e
verdadeiros a serem buscados pelos potenciais suicidas. A base principal é,
sempre, o amor superno de Deus. Depois vem o apoio da família. Todavia, o que o
mundo cristão, sem generalizar, ainda não atentou é de que o potencial suicida
sempre dá sinais latentes e SEMPRE precisa
de ajuda. Que tipo de ajuda? Pense, reflita e vamos trabalhar juntos sobre os
tipos de ajuda (no plural mesmo). Que Deus nos abençoe. Amém.
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