sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

UM GRITO DEIXADO NO AR: o Suicídio (inclusive de pastores) (2ª Parte)


Nenhum cristão sério duvida de que a vida é sagrada. É dom dado por Deus e, portanto, pertence a Ele (Sl.139:13-16, dentre tantos). Infelizmente, no meio evangélico o tema ainda não é tratado com o devido respeito e profundidade. A transparência é necessária e inegociável.  Sem transparência, não há prevenção. A raiz não é apenas espiritual, é social e psicológica também e muito mais profunda do que se pretende transparecer. É preciso desnudar a máscara da religiosidade, dos transtornos, das crises e dificuldades pelas quais passa o meio cristão e, essencialmente, os pastores, pastoras e liderança espiritual (genericamente falando). Não há porque se esconder a realidade nua e crua do meio religioso. Há dezenas de pastores se suicidando... e ponto final.

Fiz um rápido levantamento nas redes sociais (portanto, não é científico) e descobri que nos últimos três anos mais de vinte (20) pastores, pastoras, missionários, evangelistas e congêneres se suicidaram mundo afora. No Brasil o suicídio está grassando cada vez mais. A realidade do fato tem que deixar de ser tabu e o enfrentamento real, transparente, verdadeiro, sem religiosidade hipócrita precisa ser enfrentado. E mais, esse não é apenas um problema da igreja cristã, é, também, um problema social grave que as forças governamentais têm que enfrentar.

O fato é antigo, apenas grassou nos últimos tempos. Biblicamente falando há alguns casos mostrados pela Palavra de Deus. Independe se a pessoa se matou ou pediu para que a sua vida fosse tirada, tendo consciência de que morreria de qualquer forma. É só conferir: Abimeleque (Jz. 9:54); Saul (I Sm. 31:4); o escudeiro do rei Saul (I Sm. 31:4-6); Aitofel (II Sm. 17:23); Zinri (I Rs. 16:18); Judas (Mt. 27:5). Há, também, Sansão que pediu pra morrer, juntamente com os inimigos filisteus (Jz. 16:29-30). O carcereiro de Filipos, só não se suicidou, por intervenção do apóstolo Paulo (At. 16:26-28). Aqui não se discutirá, dos textos acima, o que é tido como suicídio ou não, se é eutanásia ou suicídio assistido. Apenas a constatação de que a Bíblia mostra alguns casos de suicídio.

Fora isso, há alguns casos de “homens de Deus” que, diante de crises homéricas para eles, pediram a morte, num deplorável estado de depressão ou distúrbios emocionais e ou espirituais. Outros que honestamente choraram suas crises em desespero de morte. Ei-los: Davi, ao ser repreendido por Natã e saber da morte de seu filho... entrou em desespero (II Sm.12:13-18). Muitos salmos refletem seu estado de angústia e dor (Sl. 38:4-6; 42:5;11 e outros). Elias, o vitorioso profeta foi ameaçado por Jezabel e fugiu. Longe, no deserto, desgastado, derrotado, afastado de tudo e de todos, sentou-se e pediu a morte (I Rs. 19:4). Jonas, vocacionado por Deus aos ninivitas... fugiu. Foi resgatado e pregou uma mensagem simples, objetiva a ponto de salvar toda uma cidade. Porém, ao invés de alegria, ficou triste e bravo ao mesmo tempo, a ponto de pedir a morte (Jn. 4:3, 8-9). sofreu tanto que, diversas vezes, entrou em crise profunda (Jó 3:11, 26; 10:1). Moisés também passou por crises profundas diante da incredulidade do povo de Deus. Foram momentos de ira, desespero, decepção diante da missão (Ex. 32:19-20, 32). Jeremias, o profeta chorão, sempre teve sua mensagem rejeitada, além de ter sido proibido de se casar e ter filhos. Pobre, solitário, perseguido e rejeitado, constantemente chorava e teve momentos de profunda depressão (Jr.  8:18-9:1; 20:14, 18). O próprio Jesus, o Filho de Deus humanizado (sua natureza teantrópica), mostrou, como exemplo, que todos passariam por crises (Mc. 14:34-36; Lc. 22:44).

Alguns afirmam que o suicida tem distúrbios mentais. Bem isso é verdade, mas, não toda a verdade. Não existe causa única. Existem duas escolas clássicas que pensam de formas diferentes. Uma é a sociológica e a outra a psiquiátrica. A primeira entende que o distúrbio nem sempre é mental. A segunda acha que sim. Há outras escolas, claro. Não há como ter unilateralidade em tal assunto. O leque precisa ser maior e aberto. Pessoas que demonstram plena saúde mental, não poucas vezes, por determinadas circunstâncias surtam. Há momentos na vida que pessoas absolutamente normais sofram pressões terríveis tais como: doenças graves, morte de pessoa amada, profundo sentimento de sofrer injustiça, desmonte familiar... e tantos outros. Além disso, pode surgir a depressão, o isolamento indesejado, a bipolaridade, a violência doméstica, as drogas, questões morais e éticas, além de profundos questionamentos religiosos tão comuns no meio cristão, independente de denominação.

Se as linhas “sociológica e psiquiátrica” não se entendem, a cristã também não. Há extremos que precisam ser combatidos. Há aqueles que entendem que a depressão suicida é causada por “demônios” e há aqueles que entendem que é causada por pecados cometidos. Ambas as correntes entendem que a depressão que leva ao suicídio não é doença. E isso é um erro crasso. Mas, sobre isso, especificamente, será tratado em um próximo artigo. Fique atento!

Apenas para instigar sua leitura dos próximos textos, quero fazer uma afirmação que é peremptória para este autor: Ninguém pode julgar que alguém não morreu salvo, pelo fato de ter cometido suicídio. “Cada caso é cada caso”, como diria minha avó. Vou entrar mais profundamente nisso oportunamente. Não tenho medo de afirmar que um cristão pode sofrer um distúrbio mental, uma depressão violenta ou outro tipo de crise que julgue “sem saída” e atentar contra a própria vida. É normal? Não. É certo? Não. É a vontade de Deus? Também não. Por isso, há uma infinidade de tensões a serem discutidas. Toda essa discussão é embasada primariamente em princípios bíblicos que amo e estudo profundamente. Secundariamente, em outros estudos que precisam ser sopesados entre si e confrontados com a inerrância da Palavra de Deus.

Existem saídas e recursos divinos sadios e verdadeiros a serem buscados pelos potenciais suicidas. A base principal é, sempre, o amor superno de Deus. Depois vem o apoio da família. Todavia, o que o mundo cristão, sem generalizar, ainda não atentou é de que o potencial suicida sempre dá sinais latentes e SEMPRE precisa de ajuda. Que tipo de ajuda? Pense, reflita e vamos trabalhar juntos sobre os tipos de ajuda (no plural mesmo). Que Deus nos abençoe. Amém.






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