quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

UM GRITO DEIXADO NO AR: o Suicídio (inclusive de pastores) (4ª Parte)


Depressão I - “A depressão é um transtorno comum em todo o mundo: estima-se que mais de 300 milhões de pessoas sofram com ele. A condição é diferente das flutuações usuais de humor e das respostas emocionais de curta duração aos desafios da vida cotidiana. Especialmente quando de longa duração e com intensidade moderada ou grave, a depressão pode se tornar uma crítica condição de saúde. Ela pode causar à pessoa afetada um grande sofrimento e disfunção no trabalho, na escola ou no meio familiar. Na pior das hipóteses, a depressão pode levar ao suicídio. Cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano - sendo essa a segunda principal causa de morte entre pessoas com idade entre 15 e 29 anos”.* Essa informação é da Organização Mundial da Saúde (OMS). O link para acesso vai no final deste artigo. 

Como prometido na postagem anterior, o tema deste será a depressão como uma das causas do suicídio. As ciências médicas apontam a depressão como uma “desordem do funcionamento cerebral”. Desordem que afeta e compromete todo o funcionamento normal do organismo humano. Isso traz reflexos diretos na vida pessoal do depressivo em vários aspectos: emocionais, psicológicos, familiares, sociais e, também, espirituais. Em outro artigo será abordada a questão doença X pecado. Como doença deve ser examinada à luz da biologia, da genética, do cognitivo e do social; onde se deve levar em conta o histórico pessoal da pessoa em todas as possíveis áreas. Como pecado, deve ser examinado à luz da Palavra de Deus. Entretanto, creio, as duas coisas não são excludentes.

Óbvio que o enfoque principal do blog é o mundo cristão e, em especial, o ministério pastoral. E este tem sido vítima brutal de suicídios. Prega-se que a igreja precisa ser “comunidade terapêutica”. Isso não combina com suicídio... todavia, isso tem sido recorrente. O cristão e, em especial, o pastor, deve ensinar tudo que Jesus ordenou e ensinou. Não apenas as doutrinas teológicas sobre Deus, salvação, igreja, oração, demônio, anjos, oração... mas, também, sobre casamento, pais e filhos, obediência, liberdade, sexo, ansiedade, medo, solidão, dúvida, orgulho, desânimo, depressão e muito mais. Jesus tratou muito com pessoas problemáticas. Sempre as ouvia e as aceitava como eram. Portanto, cumprir o que Jesus ensinou inclui, além do ensino, ajudar as pessoas a se conhecerem melhor e se relacionarem melhor com Deus, com o próximo e consigo mesmas.

Já li que a igreja é um “depósito de santos”. Definitivamente, isso não é verdade. A igreja precisa ser uma “comunidade terapêutica” onde todos, pastor, membresia e comunidade sejam, mutuamente, ajudados e abençoados. Como “comunidade terapêutica” no sentido mais amplo, precisa ser, também, no sentido espiritual. Assim, essa comunidade precisa ser alicerçada num tripé que: a) é voltada para o alto; b) é voltada para o exterior; c) é voltada para dentro de si, o seu interior. Para o alto porque deve adorar junta; para o exterior porque deve evangelizar junta, levando em conta os dons pessoais de cada pessoa; para o interior (dentro de si) porque precisa praticar a verdadeira comunhão à luz de Atos 2. Obrigatoriamente isso implica em uma equânime divisão de tarefas, segundo os dons recebidos de Deus; mas, também e principalmente, uma fraternidade que excede a qualquer entendimento humano. É um tripé autossustentável  firmado na Palavra de Deus e é indestrutível se firmado na Rocha que é Cristo. Todavia, a igreja fica fragilizada e os cristãos, individualmente, ficam a mercê de intempéries variadas, se um pé do tripé não estiver funcionando corretamente. Quando o tripé está solidificado em Cristo é certo que Ele cumprirá a promessa de que “estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos” (Mt. 28:20b NVI).

As três partes do tripé estão fragilizadas na igreja moderna. Cada uma das partes mereceria um livro para ser abordada. Quero focar apenas na interior, na comunhão, na ajuda comunitária que envolve o amor ao próximo, o amor ao outro e o amor a si próprio. O íntimo de cada pessoa, de cada cristão é, quase sempre, algo indecifrável. Um mundo tão soturno que é difícil compreender o cristianismo vivido assim. E o que é pior, o mal atingiu os pastores, aliás, os líderes religiosos em geral e o reflexo disso chama-se ou desemboca-se na depressão. A OMS afirma que a depressão é a doença do século e da moda. Não há mais alegria de viver. Já ouvi no meu gabinete algo assim: “vivo num inferno e cheguei ao fundo do poço, acho que não tenho mais perdão”. O sentimento do depressivo é de perda do amor-próprio, perda da dignidade, perda da autoestima. A pessoa já não vê mais sentido para a vida, face a um futuro incerto e sem perspectiva. A tristeza está estampada nos olhos, no rosto, no andar, nos movimentos corpóreos. O desejo é de entrar dentro de si, como um caracol. Já não há mais desejo de contato pessoal, de trabalhar, de passear, de namorar. Normalmente o apetite vai embora, a comida fica insossa, a insônia passa a ser parte normal da vida. O resultado é lentidão mental e uma infinidade de doenças psicossomáticas, tais como: cefaléia, dores musculares generalizadas e até inapetência sexual.

Há que se prestar muita atenção na “depressão mascarada”, expressão cunhada por especialistas. No mascaramento a pessoa que sofre a depressão tende a se afastar de tudo e de todos ao seu redor. Prefere mais tempo sozinha e muda seus hábitos alimentares e de sono. Perde o foco e o interesse nas atividades que antes gostava muito. Mesmo ensimesmada torna-se especialista em demonstrar coragem quando está na frente de outras pessoas. Especialistas apontam dez (10) hábitos de pessoa com depressão mascarada. Ei-las: 1. Perda de interesse por atividades que antes gostava; 2. Mudança gradual no apetite (com ganho ou perda de peso); 3. Sente e reclama de abandono (coitadismo); 4. Insônia ou sono excessivo (fuga); 5. Passa a mentir com frequência (acobertamento do seu estado); 6. Quer passar maior parte do tempo sozinha (evita o social); 7. Porta-se com coragem na frente dos outros (alteração do estado mental); 8. Vagarosamente começa a consumir mais café, álcool, açúcar e até drogas (estimulantes para aumentar o humor e conseguir dormir); 9. Mudanças repentinas de direção da vida ou expressões de sentimentos inadequados ao seu padrão vigente; 10. Sutis pedidos de ajuda (pouco perceptível a quem não está atento).

O parágrafo anterior foi escrito para que as pessoas conheçam os principais sinais que, por si sós, soam como “sutis pedidos de socorro”, e possam ser ajudados. Vance Havner (pregador itinerante batista dos EUA, 1901-1986) perdeu sua esposa, ficou muito doente e desencadeou o que ele chamou de “andar no vale da sombra da morte”. Afirmou que a experiência cristã acontece em três (03) níveis: 1°. os dias do “topo das montanhas”, onde tudo vai muito bem obrigado, com os dias ensolarados e bonitos; todavia, ninguém consegue pular de topo em topo nas montanhas sempre. Entre os topos estão os vales e planície; 2º. depois vêem os “dias comuns”, onde nada de anormal acontece, tudo é sempre igual e os dias são mornos, nem alegres nem deprimidos; . por último, os “dias sombrios”, quando a vida é um arrastar pesado pelos vales e planícies, por meio dos desânimos, desesperos, dúvidas e sentimentos confusos. Diz Havner que os três níveis se alternam por dias, meses e, até, anos antes da completa sensação de alívio. Também diz que, a persistência da continuidade dos “dias sombrios”, sem alternância com os outros níveis... é a instalação da depressão. Então, quais as causas e sintomas da “depressão normal” onde existem os “sutis pedidos de ajuda” antes que haja um “grito deixado no ar” pelo suicídio? Assunto para o próximo artigo. Que Deus o abençoe ricamente. Amém.
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*https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5635:folha-informativa-depressao&Itemid=822   (acessado em 14 de janeiro de 2019)




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