Eu, e muita gente, víamos o
amor como uma grande virtude da vida. Hoje, não tenho dúvidas de que O AMOR é
muito mais que isso: é a própria vida. Há quem diga que é a única virtude da
vida, da qual dependem todas as outras. O amor é o único elemento eterno. O
único que ultrapassará os umbrais da eternidade, passando intacto pela morte.
Não tenho intenção, e nem quero, escrever sobre o amor de forma poética, ou
filosófica, ou teológica, ou de outra qualquer forma.
Quero escrever sobre o Amor,
da forma como Deus o concebeu. Para tanto, quero usar os termos encontrados na
língua grega: a língua onde se expressaram os “homens de Deus”, ao transmitirem
Suas mensagens.
“Eu te amo”, “vamos fazer
amor”, “amo de montão minha amiga”; são expressões do cotidiano na vida da
humanidade, na maior parte das línguas. O termo “amor” é o mesmo para todas
essas diferentes conotações. Amor... mas o que esse sentimento significa? Que
conotações diferentes o termo tem, quando na língua portuguesa se faz uma tremenda
confusão ao se usar AMOR, sentimento lindo e santo, com sexo puro e sem
sentimento, por exemplo? É preciso deixar claro, como princípio, que qualquer
pessoa que tenha estudado filosofia analítica entende que palavras como Amor (e
tantas outras), não podem ser definidas, assim como a vida é indefinível, na
sua essência. As definições humanas dessas palavras são “funcionais,
descritivas” e não definitivas. Então, vejamos...
São três as palavras básicas,
no grego, usadas para amor: “Philéo”; “Éros”; “Ágape”. Quais os significados,
de forma superficial?
a) Philéo (Filéo = gostar de,
amor fraternal) > é a palavra mais empregada e indica uma atração geral para
com uma pessoa ou coisa. Em primeiro
plano está o significado de amor para com parentes e amigos (cf. a formação
típica de philadelphia, o “amor pelo irmão”); mas engloba afeição amorosa para
com deuses, homens e coisas como objetos possíveis. “Philía” denota “amizade”,
“devoção”, “favor”. Filantropia é, etimologicamente, saída de “philía”. Há um
número muito grande de palavras que se compõem com origem nessa palavra
(philía), tais como: hospitalidade, afeição, amizade, amigo, e, em muitos
casos, está associada a “favor” e até a “beijo” como sinal de amor por alguém,
no sentido de amizade. Pode-se dizer,
então, que “philéo” no grego, é o amor que se sente por um amigo, por um
parente, pelos familiares.
b) Eros = Aqui, o sentido é
aquele do “amor” que deseja ter ou possuir. É o amor apaixonado, o amor que
deseja fisicamente! A conotação mais comum de “éros” é o amor entre um homem e
uma mulher que abrange o “anseio”, o “anelo”, o” desejo”. “O deleite dos gregos na beleza do corpo e
nos desejos sensuais achava expressão aqui, na abordagem dionisíaca à vida, e
sua sensação dela. O êxtase sensual deixa muito para trás a moderação e a
proporção e, os tragedianos conheciam o poder irresistível de Eros – o deus do
amor tinha o mesmo nome – que, no caminho do êxtase, esquecia-se de todo o
raciocínio, vontade e discrição”. (COENEM, Lothar e BROWN, Colin. Dicionário
Internacional de Teologia do Novo Testamento, pg.113). De “éros” vem, portanto,
as palavras “erótico”, “erotismo” e seus cognatos. Está claro, portanto, que o erótico (éros)
está intimamente ligado ao lado sexual do amor, do relacionamento.
c) Ágape = a origem desta é
muito controvertida. Não está clara sua etimologia. O vocábulo “agapao” aparece frequentemente na
literatura grega de Homero em diante, mas o substantivo ágape é uma construção que só aparece no grego posterior. É uma
palavra descolorida no grego, e aparece, com freqüência, como alternativa para “éros" e “philéo”, com o significado
de “gostar de”, “tratar com respeito”, etc. Esta palavra precisaria de um
“livro inteiro e muito grande” para se tentar definir o seu significado
posterior, no que tange ao amor de Deus.
Vou sintetizar! No Novo
Testamento (Bíblia) “agapao” e o
substantivo “ágape” tomaram um
significado especial, sendo que se empregam para falar do amor de Deus ou o
modo de vida que nEle se baseia.
No judaísmo helenístico e
rabínico, “ágape” ficou sendo o
conceito central para descrever o relacionamento de Deus com o ser humano, e
vice-versa. Apesar dos matizes místicos gregos e orientais, a palavra manteve
suas implicações básicas do Antigo Testamento. Deus ama Seu povo no meio de
toda aflição que este se encontra. O fiel corresponde a esse amor à medida que
obedece Suas leis e imita a compaixão zelosa de Deus. A pessoa que recebe o
amor (ágape) de Deus; ama até seu inimigo. Razão? Porque o amor de Deus (ágape) adentrando ao
coração do ser humano, torna este pleno de amor. Aí o amor “philéo” e o amor “éros”
se doam por inteiro. Isso significa que
o amor “ágape” (o de Deus), permeia o amor amizade, bem como o amor
erótico. Assim, o ser humano tem
condições de amar plenamente. O amor “ágape” precisa e só alcança seu valor
máximo quando o ser humano “ama ao próximo como a si mesmo”. Não há possibilidade humana de se amar ao
próximo de modo pleno, se o amor “ágape” não habitar plenamente no seu
interior. Assim, o cônjuge que ama, só pode amar fielmente e inteiramente com
amor “éros e philéo”; se o amor de Deus (ágape) fizer parte de sua vida. Isso
significa que o amor “ágape” precisa ser pleno e diuturno na vida das pessoas.
“Fazer amor” sexo (éros) por
instinto, apenas, é só “éros”. “Fazer
amor” (éros), se permeado de “ágape”, implica em fidelidade, respeito, amizade,
coerência, doação, vida verdadeira e comunhão com o cônjuge e com Deus. Só o
amor “éros” é puro sexo animal.
Quero destacar um texto da
Bíblia para exemplificar a prática desta palavra. É o texto de I Coríntios 13.
Ali, o amor, quando fruto do próprio amor de Deus, transforma os homens
conforme a imagem moral de Cristo e recebe dezesseis descrições diversas (vs.
4-8). Todas essas expressões de amor são descritas por meio de verbos, e não
por adjetivos, como indicação de que o amor é uma força ativa e dinâmica,
jamais estática. Esse trecho termina dizendo que o amor “nunca falha”.
A seguir, são sugeridas as
formas que as descrições do amor “ágape”, que permeia o amor “éros” e o amor “philéo”,
podem assumir quando se aplicam a ação do ser humano em todos os níveis de seus
relacionamentos: (extraído do Novo Testamento Interpretado, de CHAMPLIN,
Russell Norman; vol. 4, pg. 203).
a)
É desejo, em sua forma pura, pelo bem-estar
de outros; e isso sem importar se é o nobre desejo de Deus em favor da redenção
humana (Deus é amor), ou se é o amor que um ser humano tem por outro.
b)
É uma modalidade de louvor e exaltação,
reconhecimento de valor de outrem, como se dá no caso do amor que o homem pode
ter por Deus.
c)
É o “enchimento” de um homem com um elevado
ideal ou dedicação, como sucede quando um homem serve ao próximo ou a Deus.
d)
É a adoração prestada a outrem; e isso sem
se importar se do homem para com Deus, ou se de um ser humano para outro.
e)
O amor ao próximo consiste em querermos
para o próximo o mesmo que queremos para nós mesmos.
f)
Por conseguinte, o amor consiste em
estimarmos ao próximo como estimássemos a nós mesmos. A auto-estima leva-nos a
“cuidar” de nossa própria pessoa, protegendo-a, providenciando o que lhe é
necessário, sacrificando-nos por seu bem-estar. Quando cuidamos do próximo como
cuidamos de nós mesmos, amamos a essa pessoa como a nós mesmos; e se esse amor
ao próximo não atingir esse nível, então o nosso amor será proporcionalmente
débil.
Você, leitor, Ama? Quando você diz que ama seu pai, sua mãe, os
amigos, seus filhos, os parentes... está falando do amor “philéo”. Quando você
expressa amor pelo seu cônjuge, está falando do amor “éros”. Perceba que são tipos
de amor diferentes. Mas a língua portuguesa não faz a diferença. É preciso
explicá-las. Já no grego, o uso de cada termo define por si só e diretamente.
Você ama seu cônjuge, namorado, noivo e etc.; com atração física, com desejo,
com “tesão”? É o amor “éros” falando mais alto. Todos nós temos e sentimos
essas duas conotações do amor. São sentimentos legítimos, gostosos. Humanos...
mas que emanam de Deus, porque o amor nasceu no coração de Deus e foi
transmitido a nós. O ser humano o tem deturpado. E, neste caso, a deturpação
acontece por falta do amor “ágape”.
O amor humano baseado no “ágape”
(o de Deus), ultrapassa a todo amor humano possível. Só esse tipo de amor é
capaz de produzir o verdadeiro amor “philéo” e o verdadeiro amor “Eros”. Isso
não significa que o amor “Eros” e o “philéo” não existam e não estão por aí,
por si sós. Eles existem, mas carecem de um sentido mais real, profundo,
verdadeiro. O verdadeiro amor, baseado no “ágape” de Deus é aquele amor que “é
sofredor, é benigno, não é invejoso, não trata com leviandade, não se
ensoberbece, não se porta com indecência, não busca seus próprios interesses,
não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a
verdade, tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta... porque ele NUNCA
FALHA”.
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