quarta-feira, 6 de março de 2019

POR FALAR EM AMOR...


Eu, e muita gente, víamos o amor como uma grande virtude da vida. Hoje, não tenho dúvidas de que O AMOR é muito mais que isso: é a própria vida. Há quem diga que é a única virtude da vida, da qual dependem todas as outras. O amor é o único elemento eterno. O único que ultrapassará os umbrais da eternidade, passando intacto pela morte. Não tenho intenção, e nem quero, escrever sobre o amor de forma poética, ou filosófica, ou teológica, ou de outra qualquer forma.

Quero escrever sobre o Amor, da forma como Deus o concebeu. Para tanto, quero usar os termos encontrados na língua grega: a língua onde se expressaram os “homens de Deus”, ao transmitirem Suas mensagens.

“Eu te amo”, “vamos fazer amor”, “amo de montão minha amiga”; são expressões do cotidiano na vida da humanidade, na maior parte das línguas. O termo “amor” é o mesmo para todas essas diferentes conotações. Amor... mas o que esse sentimento significa? Que conotações diferentes o termo tem, quando na língua portuguesa se faz uma tremenda confusão ao se usar AMOR, sentimento lindo e santo, com sexo puro e sem sentimento, por exemplo? É preciso deixar claro, como princípio, que qualquer pessoa que tenha estudado filosofia analítica entende que palavras como Amor (e tantas outras), não podem ser definidas, assim como a vida é indefinível, na sua essência. As definições humanas dessas palavras são “funcionais, descritivas” e não definitivas. Então, vejamos...
São três as palavras básicas, no grego, usadas para amor: “Philéo”; “Éros”; “Ágape”. Quais os significados, de forma superficial?

a) Philéo (Filéo = gostar de, amor fraternal) > é a palavra mais empregada e indica uma atração geral para com uma pessoa ou coisa.   Em primeiro plano está o significado de amor para com parentes e amigos (cf. a formação típica de philadelphia, o “amor pelo irmão”); mas engloba afeição amorosa para com deuses, homens e coisas como objetos possíveis. “Philía” denota “amizade”, “devoção”, “favor”. Filantropia é, etimologicamente, saída de “philía”. Há um número muito grande de palavras que se compõem com origem nessa palavra (philía), tais como: hospitalidade, afeição, amizade, amigo, e, em muitos casos, está associada a “favor” e até a “beijo” como sinal de amor por alguém, no sentido de amizade.  Pode-se dizer, então, que “philéo” no grego, é o amor que se sente por um amigo, por um parente, pelos familiares.

b) Eros = Aqui, o sentido é aquele do “amor” que deseja ter ou possuir. É o amor apaixonado, o amor que deseja fisicamente! A conotação mais comum de “éros” é o amor entre um homem e uma mulher que abrange o “anseio”, o “anelo”, o” desejo”.  “O deleite dos gregos na beleza do corpo e nos desejos sensuais achava expressão aqui, na abordagem dionisíaca à vida, e sua sensação dela. O êxtase sensual deixa muito para trás a moderação e a proporção e, os tragedianos conheciam o poder irresistível de Eros – o deus do amor tinha o mesmo nome – que, no caminho do êxtase, esquecia-se de todo o raciocínio, vontade e discrição”. (COENEM, Lothar e BROWN, Colin. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, pg.113). De “éros” vem, portanto, as palavras “erótico”, “erotismo” e seus cognatos.  Está claro, portanto, que o erótico (éros) está intimamente ligado ao lado sexual do amor, do relacionamento.

c) Ágape = a origem desta é muito controvertida. Não está clara sua etimologia. O vocábulo “agapao” aparece frequentemente na literatura grega de Homero em diante, mas o substantivo ágape é uma construção que só aparece no grego posterior. É uma palavra descolorida no grego, e aparece, com freqüência, como alternativa para “éros" e “philéo”, com o significado de “gostar de”, “tratar com respeito”, etc. Esta palavra precisaria de um “livro inteiro e muito grande” para se tentar definir o seu significado posterior, no que tange ao amor de Deus.

Vou sintetizar! No Novo Testamento (Bíblia) “agapao” e o substantivo “ágape” tomaram um significado especial, sendo que se empregam para falar do amor de Deus ou o modo de vida que nEle se baseia.

No judaísmo helenístico e rabínico, “ágape” ficou sendo o conceito central para descrever o relacionamento de Deus com o ser humano, e vice-versa. Apesar dos matizes místicos gregos e orientais, a palavra manteve suas implicações básicas do Antigo Testamento. Deus ama Seu povo no meio de toda aflição que este se encontra. O fiel corresponde a esse amor à medida que obedece Suas leis e imita a compaixão zelosa de Deus. A pessoa que recebe o amor (ágape) de Deus; ama até seu inimigo. Razão?  Porque o amor de Deus (ágape) adentrando ao coração do ser humano, torna este pleno de amor. Aí o amor “philéo” e o amor “éros” se doam por inteiro.  Isso significa que o amor “ágape” (o de Deus), permeia o amor amizade, bem como o amor erótico.  Assim, o ser humano tem condições de amar plenamente. O amor “ágape” precisa e só alcança seu valor máximo quando o ser humano “ama ao próximo como a si mesmo”.  Não há possibilidade humana de se amar ao próximo de modo pleno, se o amor “ágape” não habitar plenamente no seu interior. Assim, o cônjuge que ama, só pode amar fielmente e inteiramente com amor “éros e philéo”; se o amor de Deus (ágape) fizer parte de sua vida. Isso significa que o amor “ágape” precisa ser pleno e diuturno na vida das pessoas.

“Fazer amor” sexo (éros) por instinto, apenas, é só “éros”.  “Fazer amor” (éros), se permeado de “ágape”, implica em fidelidade, respeito, amizade, coerência, doação, vida verdadeira e comunhão com o cônjuge e com Deus. Só o amor “éros” é puro sexo animal.

Quero destacar um texto da Bíblia para exemplificar a prática desta palavra. É o texto de I Coríntios 13. Ali, o amor, quando fruto do próprio amor de Deus, transforma os homens conforme a imagem moral de Cristo e recebe dezesseis descrições diversas (vs. 4-8). Todas essas expressões de amor são descritas por meio de verbos, e não por adjetivos, como indicação de que o amor é uma força ativa e dinâmica, jamais estática. Esse trecho termina dizendo que o amor “nunca falha”.

A seguir, são sugeridas as formas que as descrições do amor “ágape”, que permeia o amor “éros” e o amor “philéo”, podem assumir quando se aplicam a ação do ser humano em todos os níveis de seus relacionamentos: (extraído do Novo Testamento Interpretado, de CHAMPLIN, Russell Norman; vol. 4, pg. 203).
a)   É desejo, em sua forma pura, pelo bem-estar de outros; e isso sem importar se é o nobre desejo de Deus em favor da redenção humana (Deus é amor), ou se é o amor que um ser humano tem por outro.
b)   É uma modalidade de louvor e exaltação, reconhecimento de valor de outrem, como se dá no caso do amor que o homem pode ter por Deus.
c)   É o “enchimento” de um homem com um elevado ideal ou dedicação, como sucede quando um homem serve ao próximo ou a Deus.
d)   É a adoração prestada a outrem; e isso sem se importar se do homem para com Deus, ou se de um ser humano para outro.
e)   O amor ao próximo consiste em querermos para o próximo o mesmo que queremos para nós mesmos.
f)   Por conseguinte, o amor consiste em estimarmos ao próximo como estimássemos a nós mesmos. A auto-estima leva-nos a “cuidar” de nossa própria pessoa, protegendo-a, providenciando o que lhe é necessário, sacrificando-nos por seu bem-estar. Quando cuidamos do próximo como cuidamos de nós mesmos, amamos a essa pessoa como a nós mesmos; e se esse amor ao próximo não atingir esse nível, então o nosso amor será proporcionalmente débil.

Você, leitor, Ama?  Quando você diz que ama seu pai, sua mãe, os amigos, seus filhos, os parentes... está falando do amor “philéo”. Quando você expressa amor pelo seu cônjuge, está falando do amor “éros”. Perceba que são tipos de amor diferentes. Mas a língua portuguesa não faz a diferença. É preciso explicá-las. Já no grego, o uso de cada termo define por si só e diretamente. Você ama seu cônjuge, namorado, noivo e etc.; com atração física, com desejo, com “tesão”? É o amor “éros” falando mais alto. Todos nós temos e sentimos essas duas conotações do amor. São sentimentos legítimos, gostosos. Humanos... mas que emanam de Deus, porque o amor nasceu no coração de Deus e foi transmitido a nós. O ser humano o tem deturpado. E, neste caso, a deturpação acontece por falta do amor “ágape”.

O amor humano baseado no “ágape” (o de Deus), ultrapassa a todo amor humano possível. Só esse tipo de amor é capaz de produzir o verdadeiro amor “philéo” e o verdadeiro amor “Eros”. Isso não significa que o amor “Eros” e o “philéo” não existam e não estão por aí, por si sós. Eles existem, mas carecem de um sentido mais real, profundo, verdadeiro. O verdadeiro amor, baseado no “ágape” de Deus é aquele amor que “é sofredor, é benigno, não é invejoso, não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade, tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta... porque ele NUNCA FALHA”.


                                          


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