Em próximos artigos, este blogueiro irá aprofundar o
assunto “educação das crianças” trazendo questões sobre atitudes, formação do
caráter e coisas correlatas. Neste, apenas a questão das crianças serem,
automaticamente, pertencentes ao “Reino dos Céus”, só pelo fato de serem
crianças. Tem havido muita barbárie para com as crianças. A humanidade tem
impingido muito sofrimento a elas: fome, violência, estupros, e tantas coisas
horrendas. Como ficam essas crianças perante Deus? As crianças são, de fato,
inocentes? Até que idade? Essa é uma “crença” (ou fé) dos cristãos (sem cor
denominacional), baseada naquilo que se lê na Bíblia em Mateus 19:14; nas
traduções mais antigas. A Bíblia de estudo Scofield – e muitas outras – diz
textualmente: “Jesus, porém, disse:
Deixai os meninos, e não os estorveis de vir a mim; porque dos tais é o reino
dos céus”. Essa tradução é esdrúxula, pois o original grego diz outra
coisa.
Então, qual é o problema nessas mortes prematuras?
Afinal, “delas é o Reino dos Céus”! Muita cautela nessa hora. O que acontece
após a morte com essas crianças? Infelizmente há muita coisa nebulosa na
hermenêutica e exegese “infantil” da Bíblia. A rodo, os seminários e faculdades
teológicas de todos os matizes não têm “descidos às águas profundas” das
línguas originais. Consequência? Muita confusão e ensinos tortos sobre quase
tudo.
Pra começar é bom afirmar o que está no Salmo 51:5 NVI:
“Sei que sou pecador desde que nasci, sim, desde que me concebeu minha mãe”.
Todos nascem pecadores por natureza, portanto, ninguém nasce inocente.
“Anjinhos infantis” não têm base bíblica. É preciso entender que a tal
“inocência das crianças” é real... mas, no sentido de que não premeditam a
maldade, como fazem os adultos. É por isso, que as crianças têm mais “poder” de
perdoar e são mais abertas, transparentes e, quase sempre, muito sinceras. Não
há a maldade do adulto em suas ações. Todavia, a raiz do pecado já está
inoculada nelas... desde o nascimento. Essa humildade e simplicidade, apesar do
pecado, foram retratadas nas palavras de Jesus em Mateus 18:3-4; Marcos 9:36-37
e textos correlatos.
Sem quaisquer vieses da psicologia, apenas pelo senso
comum e pelas multiformes leituras e estudos, há de se perceber que as
crianças, na pessoa santa do Senhor Jesus, tiveram e têm um alto padrão de
espiritualidade à qual deviam se espelhar os adultos. Principalmente os adultos
religiosos com quem, quase sempre, Jesus “bateu de frente”. É o espelho da humildade infantil, da
sinceridade, da pureza e da prática comum do perdão entre elas.
Entretanto, é a própria Bíblia que se abre para o
outro extremo, ou seja, há crianças que, mesmo pequenas, sofrem males diversos,
inclusive espirituais. Jesus, ao descer do Monte da Transfiguração, deparou-se
com uma cena dantesca. Seus discípulos não estavam conseguindo expulsar um
demônio de um menino. Depois de uma crítica aos discípulos perguntou ao pai
desesperado: “Há quanto tempo ele está assim?” (Marcos 9:21 NVI). A resposta
foi: “Desde a infância” (vs. 21-22).
Portanto, desde tenra infância aquele menino tinha problemas e sofria
muito.
Mas, como? Se das crianças é o “Reino dos Céus”...
elas podem sofrer assim? Cabe relembrar, como premissa, que todos somos
pecadores desde o nascimento (Salmo 51:5). Além disso, embora careça de uma
exegese mais profunda, I Coríntios 7:15 dá a entender que os pais santificam os
filhos, desde que um ou ambos sejam “crentes em Jesus”. “Santificar”, aqui, tem
o sentido de proteção de Deus à medida que seus pais sejam “servos fieis de
Cristo”. Então, como princípio básico bíblico tem-se que:
1. Todos os humanos, sem exceção, nascem pecadores e
contaminados pelas consequências dele.
2. Os filhos de pais (um deles ou os dois) que
pertençam a Cristo e O servem, vivem e crescem com algum tipo de proteção
divina.
3. Os filhos de pais perversos e ímpios, normalmente,
criam seus filhos fora do “temor do Senhor”; por isso, eles crescem e forjam o
caráter em meio às trevas espirituais.
Por uma questão lógica, independente dos itens acima...
mas, também, por causa deles, há que se perguntar: o que acontece normalmente
no ambiente familiar? O que é que os filhos observam nos pais? Atitudes éticas,
morais, cristãs, de adoração a Deus? de Louvor? Ou cenas de escárnio, mentiras,
desamor, desajustes, violência? Quais filhos estão mais protegidos? O que essas
crianças estão vendo e ouvindo no rádio, na televisão, na internet? Quais as
músicas que estão ouvindo? Que tipos de letras estão introjetando em suas
mentes e corações? Sabidamente (tema pra outro texto), o caráter é forjado até
7 ou 8 anos em quase todas as crianças. Até aí a criança ainda não sabe
“filtrar” o que é bom ou ruim e, por isso, não sabe discernir entre o certo e o
errado. Os pais, os professores, os familiares têm o dever de ser esse “filtro”
para os filhos. E que filtro terão, se os pais não forem “gente de bem”,
éticos, morais, verdadeiros, exemplos? A observação fará com que os filhos
venham a imitar o que é bom ou ruim. É por isso que o autor de Provérbios (22:6
NVI) ensina: “Instrua a criança segundo os objetivos que você tem para ela, e
mesmo com o passar dos anos não se desviará deles”. Bom dizer que neste texto
de Provérbios não está implícita a promessa de salvação dos filhos, como
ensinam alguns.
O primeiro parágrafo deste texto evoca Mateus 19:14 da
tradução Scofield, objeto de interpretação errônea, por desconhecimento do
original, que foi traduzido imprecisamente. Nele é textual: “... dos tais (as
crianças) é o reino dos céus”. Quando o grego usa o termo “toiouton”, refere-se àqueles cuja viver se assemelhe às
crianças. A melhor tradução seria a que está na NVI que diz: “(...) Deixem vir
a mim as crianças e não as impeçam; pois o Reino dos céus pertence aos que são semelhantes a elas”. “São
semelhantes...”, ou seja, têm atitudes como as das crianças. Elas são humildes,
perdoadoras, simples, transparentes, verdadeiras. É esse espírito que Deus
deseja dos adultos e que são vistos nas crianças... mas, em que crianças? Essa
tradução é pertinente e correlata com Mateus 18:3-4; Mateus 21:15-16; Marcos
9:36-37
Então, nos lares onde há fé em Deus e a família é bem
estruturada moral, ética e espiritualmente... as crianças observarão coisas
boas e forjarão um caráter abençoado por Deus. O inverso é verdadeiro nos lares
onde Deus, a fé, o exemplo, a ética, a moral não estão presentes. Normalmente,
a criança fará aquilo que observarem os adultos fazendo e não o que ouvem os
adultos dizerem. Há a mais absoluta confusão na cabeça da criança quando os
pais dizem uma coisa e fazem outra; também, quando o lar e a escola têm normas
completamente diferentes.
Não há automatização na salvação de crianças, só pelo
fato de serem crianças. Não haveria necessidade de evangelismo ou de
evangelização de crianças. Por que existir a APEC, o PEPE e tantos outros...
se, “dos tais é o Reino dos céus”? Seria muito mais fácil povoar os céus, simplesmente,
não deixando as crianças se tornarem adultas. Que tal um mutirão de extermínio
de crianças? Isso é um completo absurdo e, absolutamente contrário ao
ensinamento bíblico... mas, a interpretação errônea da Bíblia pode levar a tais
disparates, como tantos outros que existiram ao longo da história. Dessa
maneira, homens sanguinários como Hitler, Mussolini, Herodes e tantos outros
que mataram centenas de crianças, deveriam ser considerados “povoadores do
céu”. Absurdo total.
Para concluir! Não se tem a pretensão de, neste
artigo, ser a palavra final sobre o assunto. É controverso. Todavia, a base
bíblica deixada pela inspiração do Espírito Santo de Deus leva a crer que as
crianças podem ser salvas ou não. E a família é a grande base para isso.
Biblicamente não se pode fazer afirmação peremptória de que o filho do cristão
verdadeiro tem a garantia da salvação. Nenhum texto afirma isso. Nenhum,
também, afirma que a criança tem a garantia da salvação, só por ser criança. Pais,
pensem seriamente nisso: vocês são responsáveis, diante de Deus, de serem espelhos
limpos, puros e santos para seus filhos. Leia com muita atenção Deuteronômio 6.
Até o próximo artigo. Amém!